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Primeiro Capítulo Disponível para Apreciação 
Livro: OS Anjos e a Nossa Felicidade

UM CONTO CHINÊS

     Conta uma lenda, que há muitos anos, viveu na China um jovem, que ganhava seu sustento quebrando pedras. Embora são e forte, o rapaz não estava contente com sua vida e reclamava noite e dia. Tanto reclamou e blasfemou contra Deus que seu anjo da guarda o contemplou com uma visita.
     - Você tem boa saúde e uma vida toda pela frente – disse o anjo. – Todos os jovens começam a vida fazendo algo como você. Porque vive reclamando?
     - Deus foi injusto comigo e não me deu oportunidade de crescer – respondeu o jovem.
     Ouvindo essas palavras, o anjo foi à presença de Deus; de forma alguma, lhe agradaria que seu protegido acabasse por perder sua alma. Suas palavras de ajuda foram atenciosamente recebidas e, após ouvir seu discurso, Deus lhe disse: - Seja feita a tua vontade. – Tudo que seu protegido quiser, lhe será concedido!
     No dia seguinte, o jovem quebrava pedras quando avistou, em uma luxuosa carruagem, um nobre trajado das mais belas roupas. Passando a mão pelo rosto suado e sujo, o jovem disse com tristeza e amargura: - Porque não posso ser nobre também? Este é o meu destino!
     - Você o será! – disse seu Anjo, com grande alegria. E o jovem transformou-se no dono de um suntuoso palácio. Cercava-se agora, de terras, servos e diversos tipos de bens. Costumava sair todos os dias com seu impressionante cortejo e alegrava-se em rever seus antigos companheiros alinhados à beira da estrada, olhando-o com respeito.
     Num desses passeios, o calor fazia-se insuportável; e mesmo debaixo do seu imenso guarda-sol, o jovem suava como em tempos passados, em seu árduo trabalho de quebrar pedras.
     Percebeu então que não era tão importante assim: acima dele havia príncipes, imperadores, e ainda, em um posto superior, estava o sol, que não obedecia a ninguém - o verdadeiro rei.
     - Ah, anjo meu! Porque não posso ser o sol? Este deve ser meu destino! Lamentou-se o jovem.
     - Você o será! – exclamou o Anjo, escondendo sua tristeza diante de tanta ambição. E o jovem transformou-se em sol, como era seu desejo.
     Enquanto brilhava no céu, admirado com seu gigantesco poder de amadurecer as colheitas, ou queimá-las a seu bel-prazer, um ponto negro começou a avançar ao seu encontro. A mancha escura foi crescendo, estendendo-se à sua volta e o jovem reparou que se tratava de uma nuvem; que comprometia sua visão da terra.
     - Anjo! – gritou o jovem. A nuvem é mais forte que o sol! Meu destino é ser nuvem!
     - Você será! – respondeu o Anjo. E o jovem foi transformado em nuvem, acreditando que havia realizado o seu sonho.
     - Sou poderoso! Gritava, escurecendo o sol. – Sou invencível! – trovejava, perseguindo as ondas.
     Mas na costa deserta do oceano erguia-se uma imensa rocha de granito, tão velha quanto o mundo. O jovem achou que a rocha o desafiava e desencadeou uma tempestade nunca vista. As ondas enormes e furiosas batiam na rocha, tentando arrancá-la do solo e atirá-la no fundo do mar. Mas firme a rocha continuava em seu lugar.
     - Anjo! – soluçava o jovem – a rocha é mais forte que a nuvem! Meu destino é ser uma rocha! E o jovem foi transformado numa rocha.
     - Quem poderá vencer-me agora? – perguntava a si mesmo. Sou o mais poderoso do mundo! E assim se passaram vários anos, até que certo dia, o jovem sentiu uma lancetada aguda em suas entranhas de pedra, seguida de uma dor profunda, como se uma parte de seu corpo de granito estivesse sendo dilacerada. Logo ouviu golpes surdos, insistentes, e novamente a dor gigantesca. Louco de espanto gritou:
     - Anjo, alguém está querendo me matar! Ele tem mais poder do que eu, eu quero ser como ele!
     - Você o será! – exclamou o Anjo chorando. E foi assim que o jovem voltou a lascar pedras.

     Escolhi este conto para começar o livro, pois possui uma “moral da história” que muito pode nos revelar sobre a nossa relação com Deus. E também a relação que nosso Anjo da Guarda tem conosco.
     Esse conto mostra um pouco da nossa vida! Muitas vezes passamos a maior parte da nossa existência reclamando como o jovem. Reclamamos do trânsito, do tempo, do trabalho, da falta de dinheiro, da família, dos amigos, da vida atual, da saúde, etc. Adquirimos o hábito de reclamar das coisas e não paramos um segundo sequer para perceber os pequenos e grandes milagres que Deus coloca diariamente em nossa vida. Na maioria das vezes nosso comportamento é idêntico ao do jovem e exigimos de nossos pais, familiares e principalmente de Deus, uma vida luxuosa, mas sem que ocorra um mínimo de esforço de nossa parte.
     Quem não sonha com uma vida feliz, prosperidade financeira, boa saúde, um bom círculo de relacionamentos, viagens, o parceiro ou parceira ideal?
     Muitos pensadores no decorrer da história concordam que o fim último do homem, isto é, aquilo pelo qual ele dedica suas ações cotidianas é a felicidade. Felicidade é um direito inerente a cada ser humano.
     O jovem do conto, em toda a sua jornada também procurava a sua realização como “SER”, a sua felicidade. A questão é o que entendemos ou interpretamos por felicidade. Para muitos, felicidade é ter dinheiro, ter o carro do ano, ter um bom relacionamento, um status social privilegiado e assim por diante.
     Que mal há em desejar tudo isso? Afirmo que nenhum! Não estamos nesse mundo para sofrermos necessidades e privações, mas como filhos do criador, saborear uma vida abençoada e abundante.
     Mas quando colocamos o “PORQUE” da nossa felicidade em bens materiais ou em outras pessoas, criamos sérios problemas para nossa vida. Quem nunca comprou algo do tipo: um carro, uma TV, um aparelho de DVD, um telefone celular, uma roupa nova ou algum outro objeto, e toda aquela euforia em “TER” desaparece no momento em que saímos com o carro da concessionária, ou que chegamos em casa e desembrulhamos os pacotes. Daquela euforia instantânea nasce um pequeno vazio, não pelo arrependimento da compra desse ou daquele bem material, mas por perceber que mesmo adquirindo o que tanto desejamos, ainda seguimos com o mesmo vazio na “alma” e a triste e insatisfatória sensação de não conseguir “preenchê-lo”.
     Como no conto, existem pessoas ambiciosas, que ávidas por mais, mais e mais, acabam passando por cima não somente de outras pessoas, mas de si próprias, esquecendo-se de permitir ao próprio tempo, o tempo necessário para a ação de Deus, do Criador, do Universo, como assim desejar, em suas vidas; e simplesmente acabam como o jovem, tendo que novamente recomeçar do zero.
     Ficamos tão presos aos nossos desejos, às nossas ambições, aos nossos sofrimentos e não percebemos que na vida passamos por “ESTÁGIOS DE AMADURECIMENTO”. Esses estágios são como uma imensa escada, a qual temos que subir durante toda a nossa vida. Aos poucos vamos subindo, degrau a degrau; em certos momentos, de forma rápida, em outros até nos permitindo um descanso. E assim seguimos, alternando nosso ritmo, de acordo com as situações.
     O Anjo disse para o jovem: - Todos os jovens começam a vida como você! No inicio nada é fácil, sejam nos estudos, em um novo emprego, no começo de um casamento, quando mudamos de cidade. Tudo tem o seu tempo de adaptação, isto é, de amadurecimento.
     Refiro-me a “AMADURECIMENTO” como o tempo necessário para adentrarmos o próximo estágio de nossas vidas, num processo contínuo de acertos e erros, aprendizagem e reciclagem. Na faculdade é impossível ser promovido do primeiro para o último ano; numa empresa é impossível entrarmos como estagiários e já sermos promovidos a diretor executivo. Tudo na nossa vida acontece ao seu tempo e Deus, também precisa de um tempo para realizar sua obra em cada ser. Esse tempo pode ser de segundos a anos, isso cabe exclusivamente a nós, de nosso verdadeiro olhar e abertura às coisas que estão ao nosso redor, aos pequenos sinais que Deus coloca em nosso cotidiano.
     Outro aspecto deste conto é que, em situação alguma, Deus e seus Anjos nos deixam sozinhos. O jovem na busca por sua realização se encontrava, em tempo integral, assistido por Deus e seu Anjo da Guarda.
     Sobretudo, ele não se abriu às inspirações de Deus em sua vida, para a ação do seu Anjo da guarda no seu dia-a-dia, devido a sua exagerada ambição e ansiedade. Atropelou sua própria vida, não esperou as etapas para o seu próprio amadurecimento, em outras palavras, não deu tempo ao tempo. Ele acreditava em seu Anjo, mas com uma visão distorcida, precipitada e momentânea, como uma luz fraca na escuridão que apontada a um determinado objeto não consegue mostrá-lo como um todo.
     Essa crença, em um Anjo que nos acompanha no cotidiano até a nossa entrada em outra vida, encontra-se presente em várias culturas, difundida em várias religiões, cada qual com uma abordagem diferente.
     Povos antigos de credos diversos acreditavam na existência de seres espirituais que serviam como uma ponte de ligação entre nós e um ser superior (Deus ou deuses). Vemos isso na tradição da cabala judaica, nos persas e sua crença em espíritos protetores da terra e do ar, nos romanos que conferiam aos espíritos, a proteção de seu presente e futuro, nos hindus e seu culto aos seres chamados devas. A mesma crença em seres intermediários entre os deuses e os homens professavam outros povos, como os gregos, os babilônicos, egípcios, celtas, maias, incas e astecas. Percebe-se, em razão deste fato, que o espírito religioso desses povos viam no culto a esses seres espirituais uma ponte de ligação entre o nosso mundo e o mundo espiritual.
     Cada pessoa que nesse momento estiver com esse livro, com certeza possuirá uma concepção diferente sobre os Anjos e em especial ao Anjo da Guarda. Muitos podem relacionar os Anjos a crianças de bochechas rosadas, a familiares falecidos que prestam auxílio àqueles que amam, a pessoas reais que nos ajudam no dia-a-dia, aos elementais, isto é, entidades da natureza como fadas, duendes e gnomos ou ainda como gênios capazes de realizar desejos.
     Quero compartilhar com vocês minha concepção acerca dos Anjos, não tenho como objetivo criticar, doutrinar ou diminuir nenhuma crença a seu, apenas expor outro ponto de vista. Pretendo falar dos Anjos e da sua atuação em nossa vida, de seu enorme auxílio em nossa busca por paz, prosperidade e felicidade.
     Os Anjos não são deuses ou semideuses e sim, instrumentos vivos que auxiliam a nós, homens, e a Deus, no cumprimento da sua vontade. Sendo assim faz-se necessário ressaltar que os Anjos não surgiram do nada; fazem parte da criação de Deus, por isso quando falamos de Anjos automaticamente os relacionamos a Deus.
     Faço pertinente esta consideração, por constatar que nos dias atuais, muito se fala dos Anjos sem agregá-los ao Criador, sem falar da fonte primordial de onde provem sua energia, seu ser, seu fim último. Nas linhas que se seguem, falo dos Anjos através de uma abordagem baseada na tradição cristã, mas respeitando pontos de vista e óticas divergentes à minha.
     A Bíblia fala mais de 300 vezes nos Anjos, a tradição cristã está repleta de histórias da atuação dos Anjos na vida das pessoas, e através desses dois alicerces quero mostrar a importância da atuação dos Anjos na nossa vida. Vamos adentrar nesse universo místico desses seres, compreender melhor sua atuação na vida de seus protegidos, seus sinais e artifícios em nosso cotidiano.
     Muitos, ainda vêem Deus como um ser distante, misterioso, como algo incompreensível que ainda somos incapazes de descrever com perfeição, mas como diz um pensador cristão chamado Anselm Grun: “na figura dos Anjos, Deus se apresenta mais acessível. Os Anjos trazem Deus para uma dimensão que podemos compreendê-lo melhor, a nossa dimensão”. Por isso estudo e escrevo sobre eles, sobre nossos amigos que nos acompanham durante toda a nossa vida, nos protegendo e nos inspirando bons pensamentos durante a nossa subida nessa longa escada do nosso amadurecimento.
     Essas linhas seguem num linguajar simples, de fácil entendimento sem cair em demasiadas explicações teológicas, pois num primeiro momento o que me importa é apresentar a você caro leitor o universo místico dos Anjos, e não um tratado teológico acerca deles, o que resultaria em uma obra doutrinária, não um livro de espiritualidade.
     Sua presença se faz presente pela fé e experiência. Com a fé nos Anjos sentimos Deus mais perto de nós, sentimos a sua atuação nas mínimas coisas da nossa vida, estendendo-a e dimensionando-a a um novo horizonte.



A Todos meus sinceros
votos de Paz Profunda!


O autor
Inverno de 2011